quinta-feira, 1 de abril de 2010

EDUCAÇÃO FINANCEIRA



por Julio Caldeira

O número de clientes nos bancos aumentou 70% nos últimos dez anos, com a bancalização do País. Hoje, 80 milhões de brasileiros se relacionam com bancos. Fato que elevou também o uso de serviços e produtos dessas instituições, como cheque especial, financiamentos e empréstimos, que somam atualmente R$ 1,4 trilhão. Sem contar os 130 milhões de cartões de crédito circulando na praça. Se isso é bom ou não, trata-se de enxergar o copo como meio cheio ou meio vazio. Ou seja, crédito é algo que pode levar à realização de um sonho ou à inadimplência. A diferença, segundo os especialistas, está na chamada educação financeira. Foi como parte dessa empreitada que a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) pôs no ar esta semana o portal Meu Bolso em Dia (www.meubolsoemdia.com.br).

A iniciativa é a primeira ação do programa Escola de Cidadania Financeira, que tem como objetivo ajudar as famílias a alcançarem bem-estar financeiro por meio do uso consciente do dinheiro. “E dentro dessa iniciativa, nós estamos lançando o portal que, como o próprio nome diz, traz conteúdos das mais diversas origens e voltados à educação financeira”, informou o diretor de Educação Financeira da instituição, Fábio Moraes.

Para o presidente da Febraban, Fabio Barbosa, a iniciativa é uma “evolução natural” tendo em vista números como os apontados acima. “Eu acho que todos saem ganhando com a relação a educação financeira”, disse na ocasião. “Ganha a população, que pode não transformar o crédito num pesadelo, ganha a sociedade como um todo, porque o uso consciente do crédito gera um consumo perene, e ganham os próprios bancos com uma menor carga de inadimplência.”

A ideia é, em última instância, estimular o consumo presente e futuro, porém, evitando aquelas dívidas que se tornam impossíveis de serem quitadas. “Crédito é um fator fundamental de inclusão social”, afirmou o diretor Executivo da Febraban Oswaldo de Assis Filho. “E nossa intenção é juntar crédito e educação, para que essa inclusão seja bem feita e seja duradoura, fazendo com que as pessoas entendam quais são as condições nas quais elas operam, evitando um superendividamento, mas, ao mesmo tempo, possibilitando que elas possam realizar seus sonhos e construir seu futuro.”

Simulador de Sonhos

No portal é possível encontrar seções que tratam do orçamento doméstico, ensinando como equalizar gastos e renda numa planilha mensal, e ainda jogos interativos como o Simulador de Sonhos, que ajuda a calcular em quanto tempo, tendo em vista uma determinada quantia guardada por mês, será possível adquirir um bem ou serviço desejado – de uma máquina de lavar a um curso universitário. “A preocupação foi que o portal tivesse uma linguagem informal, clara e leve”, retoma Fábio Moraes. “E que trouxesse exemplos dia a dia para que fizesse sentido qualquer conceito passado.”

Quanto ao público a qual se destina o serviço, o diretor de Educação Financeira tratou de ressaltar que “o programa não foi feito para nenhuma classe específica.” Segundo Moraes, o grande algo é a família brasileira. “Eu posso garantir que para todas as classes sociais – de A a E – existem conteúdos e utilidade no programa”, afirmou.

O trabalhador assalariado, tanto funcionários de empresas quanto profissionais do mercado informal, também são contemplados. Aliás, segundo Moraes, esse se trata de um público fundamental. “Para aquele cidadão que tem uma única fonte de renda, ou seja, o salário, a ideia é fazer com que ele consiga distribuir essa quantia da melhor maneira possível, visando a maximizar a satisfação que ele tem com relação ao consumo”, disse o diretor. “E isso de uma forma que, no final, o saldo dele não seja negativo, independentemente do nível de renda que tenha.”

A preocupação especial com o trabalhador empregado tem um motivo. Uma pesquisa feita pela Febraran – e que determinou as diretrizes do site –, mostrou que esse público se preocupa menos com controle financeiro por enxergar em recursos como a Previdência Social, o seguro desemprego e o FGTS uma zona de conforto.

No entanto, segundo Moraes, essa é uma lógica perigosa. “Um dos vilões do descontrole financeiro é a falta de reservas financeiras para imprevistos”, explica o especialista. “E a nossa pesquisa mostrou que a maioria das pessoas hoje não tem essas reservas, elas vivem no fio da navalha.” Daí a atenção especial ao assalariado. “Nosso programa vai ter de atingir também o funcionário que trabalha em empresas, mostrando para ele a importância das reservas mesmo ele estando inserido no mercado de trabalho formal.”

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